...COISAS QUE GOSTO DE ESCREVER, OU QUE ACHO INTERESSANTE (ou até não...) Enfim : "Porque há direito ao grito. Então eu grito." (Clarice Lipsector)
Dever de sonhar...
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segunda-feira, 11 de junho de 2012
Não canse quem te quer bem. - Martha Medeiros
Mas, desculpem a minha inconveniência, paixão acaba. Puf! Vira poeira. Não que não sobre nada depois dela – às vezes sobra. Mas o que sobra pode ser suficiente para, no máximo, o sujeito permanecer no relacionamento apesar dos porres e das crises de enxaqueca. Mas gostar da situação, ter prazer em ajudar o bêbado ou em levantar às 3h da manhã para levar a moça à emergência, esquece! Depois que a paixão acaba, o máximo que o sujeito faz é trazer um balde para a beira da sua cama ou ligar para uma farmácia que faça tele-entrega. E com má vontade!
Conheço um casal que depois de 18 anos e três filhos, terminou o casamento por cansaço: o cara disse estar simplesmente cansado de tentar conquistá-la. Sim, ele passou 18 anos e três gravidezes tentando fazê-la corresponder-lhe. Não funcionou – e ele, como não poderia deixar de ser, cansou. Casou com outra mulher pouco tempo depois. Disse ele que não sente pela atual o que sentia pela ex, mas pelo menos agora ele se sente quite com a parceira: não dá mais do que recebe, e está feliz assim. Dar mais do que se recebe é outra coisa deveras cansativa!
Posso estar parecendo pessimista, mas isso é uma questão de ponto de vista. Para o apaixonado, que é escravo de sua paixão, não há perspectiva mais otimista do que a do fim da paixão e o restabelecimento de sua dignidade. O fim da paixão é a sua carta de alforria, sua libertação. A partir dela, ele passa apenas a querer bem. E notem que o “apenas” é uma força de expressão. Nos dias de hoje, ter alguém que lhe queira bem além de seu pai e sua mãe é um privilégio inestimável. Por isso mesmo, convém não cansá-lo." - Martha Medeiros
Crônica publicada no Jormal O Globo em 21/01/2012.